sábado, 8 de dezembro de 2012

O presente de Natal - conto de Marli T. Andrucho Boldori





O PRESENTE DE NATAL
Conto de Marli Terezinha Andrucho Boldori.





A menina apressou o passo para conseguir acompanhar a mãe. Estava com sua mãozinha suada, mas não soltava a da mãe. Ana tinha cinco anos, ela olhou para cima e pareceu-lhe que sua mãe ficara maior do que era.
A mãe, no entanto, estava absorta em seus pensamentos e esqueceu que estava quase arrastando a menina , já sem fôlego para continuar. Percebeu
a fadiga dela depois de vários tropeços da pequena. Sentiu-se mal pela atitude agressiva com sua filhinha.
Para compensar sua consciência, levou-a para fazer um lanche. Colocou-a
sentadinha em um banquinho e ficou olhando o apetite com que devorava o lanche.
Resolveu então dar um tempo e foram sentar-se no banco da praça, em frente à Igreja Matriz. Percebeu as luzes de Natal, os arranjos, o presépio no meio da praça. Lembrou que já era quase Natal. Ficou pensando e sentindo nostalgia.
Ana estava observando sua mãe há algum tempo, com tão pouca idade, mas já sabia que algo estava errado. Ficou imóvel, pois tinha medo de quebrar o silêncio.
A mãe deixou rolar as lágrimas, as quais tentou esconder.
-Mamãe, você está chorando?
-Não, filha.
-Está sim. Passa o dedinho e consegue segurar uma lágrima...
-Olhe mamãe, você está chorando sim.
A mãe abraçou a menina num ímpeto de fuga. Escondendo seu rosto no corpinho da filha. Ficaram por um longo tempo abraçadas. A mãe deu um longo suspiro e olhou para longe, como se estivesse à procura de algo que ficou no seu passado de menina.
-O que aconteceu, mamãe?
-Você está triste?
-Fale comigo!
A mãe olhou a pequena e disse:
-Filha, é a saudade de um tempo que não volta mais.
 - Conte, mamãe, conte sobre a saudade.
Sabe filha , quando eu tinha a sua idade, meu pai, seu avô, trabalhava muito, mas o dinheiro não sobrava.
Sua avó trabalhava rente para nada nos faltar e não faltava.
O clima de Natal me traz muitas recordações. Papai e mamãe me traziam aqui, na época do Natal, havia o Presépio Vivo.
-O que é Presépio Vivo, mamãe?
-É encenado com pessoas como nós, até o menino Jesus era um bebezinho e chorava muito. Tudo nos fazia sentir paz.
Perto da nossa casa, havia muitas crianças e todas recebiam algum presente do Papai Noel. Na esquina, morava uma família, muito pobre, o pai estava sem trabalhar
devido a uma doença, a mãe lavava roupa para fora, mas tinha que fazer o trabalho em sua própria casa, para poder cuidar do marido.
E, ainda, havia o filho de cinco aninhos, ele era um menino Especial.
-Por que Especial, mãe ? Era diferente?
-Sim , filha,
-Por que, mãe?
-Ele nasceu com uma doença e nunca andou, nem falou...Era triste vê-lo crescendo sem poder ficar sobre as pernas. Ele ficava sempre no chão, sobre um monte de cobertas e panos para não se machucar. Percebia-se que ele sofria..., pois estava sempre com o olhar vazio, parecia querer gritar a sua dor.
Todos no bairro o conheciam como o Pedro ou o menino aleijado.
A mãe continuou a falar como se estivesse desabafando algo que a torturava. Sabe, Ana, todo Natal me traz lembranças do Pedrinho.
-Por que, mãe? Conte mais, conte!
A mãe continuou, a família e vizinhos trabalharam muito para conseguir uma cadeira de rodas para ele, mas a cada ano o resultado era negativo. A mãe dele, disse que a cada Natal, a família tinha esperanças de que alguém doasse o tão desejado presente, uma cadeira de rodas.
Havia muita gente engajada para conseguir sucesso, mas sempre havia outra prioridade.
Hoje, com a proximidade do Natal, veio-me a lembrança daquele Natal em que eu esperava ganhar uma bicicleta. Foi o meu pedido ao Papai Noel, mais tarde, resolvi escrever outra cartinha pedindo que Papai Noel trocasse a minha bicicleta por uma cadeira de rodas para o Pedro.
A noite de Natal se aproximava, os preparativos eram muitos, minha mãe e avó faziam bolachas pintadas com açúcar colorido, muitos doces e salgados, porém tudo era feito em casa, num grande forno que ficava do lado de fora, da cozinha.
A alegria contagiava a todos, meus primos, todos com a mesma idade, não conseguiam segurar a ansiedade para receber o Papai Noel. Eu estava aflita para que ele lembrasse da cadeira de rodas.
Chegou a noite tão esperada. O Papai Noel entrou pela porta da sala, trazendo um ajudante, pois havia muita coisa a carregar. Olhei para todos os lados e não vi nada parecido com cadeira de rodas.
A minha bicicleta veio, era linda,como eu imaginava. Corri os olhos e perguntei ao Papai Noel:-
-Você não recebeu o pedido que fiz para o Pedrinho?
-Ah! Sim, recebi. E com a ajuda de muitas pessoas, conseguimos.
-Ah! Papai Noel, conte como foi a entrega, como Pedrinho ficou?
Todos em coro gritaram:-
-Conte! Conte! Papai Noel.
O velhinho, curvou-se mais, olhou para mim, com os olhos cheios de lágrimas e soluçando me abraçou e disse:-
-Ele acabou de ir para junto de Jesus, e lá ele não vai precisar de cadeira de rodas...

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

terça-feira, 14 de agosto de 2012

CONTO DE NATAL - O CAÇADOR E O ANJO


Era uma vez um jovem Anjo que duvidava da existência dos homens. Ele via uma forma de carne, ossos, sangue, pele, cabelos, uma forma material. Essa forma se movia, alimentava-se e descansava, mas ainda assim o Anjo duvidava de que fosse um homem.

O anjo sabia que os homens são espírito e matéria, e que ele tinha uma missão: cuidar de um deles. Porém, questionava se a forma rude que via era mesmo de um ser humano.

O homem, chamado Estevão, só acreditava no mundo material e ria quando alguém lhe dizia que existiam anjos. Um dia ele foi caçar numa floresta e, correndo sobre o mato úmido atrás de um veado, bateu contra o tronco de uma árvore morta que estava caída no chão. A arma escorregou de suas mãos e um forte estrondo, como o rugido de um leão, agitou a floresta. Rapidamente os pássaros revoaram e animais pequenos voltaram a suas tocas. Ao cair no chão a espingarda disparara e o caçador, com tão pouca sorte, foi ferido.

Estevão, lá deitado, vendo o sangue escorrendo de seu peito, olhou para o céu a fim de pedir socorro e, num raio de sol que penetrava pela copa das árvores, divisou a imagem de um anjo com suas aas brancas. O Anjo, por sua vez, ao ver o homem clamando por Deus, percebeu seu espírito. Ambos se olharam com curiosidade e, em seguida, passaram a se examinar mutuamente

– Você é um Anjo? Então os anjos existem! – disse o homem, admirado.

– Você é um homem? Então os homens existem! – exclamou o Anjo.

Ambos deram-se as mãos. Estevão, no entanto, havia perdido muito sangue e desmaiou.

Acordou num quarto simples, da casa de um lenhador que por acaso passara por onde ele se encontrava na floresta e, ao vê-lo ferido, decidiu a ajudá-lo.

Desde esse dia o caçador se fez amigo do Anjo, e o Anjo se fez amigo do homem. O humano sentiu-se tão feliz com seu companheiro celeste que deixou de matar outras criaturas. Agora, sua maior diversão era observar os seres da natureza: ondinas e gnomos, silfos e salamandras. Mostrou também seu mundo a seu amigo: casas e fábricas, lojas e clubes, cinemas, teatros e shoppings. Mas o ser celeste preferia as florestas, as montanhas e os mares, o ruído dos ventos, das ondas e dos pássaros.

O homem e o Anjo sempre permaneciam juntos, e os sensitivos que por acaso os viam, detinham-se perplexos a observá-los: ambos caminhavam juntos, tão serenamente que ninguém sabia se o homem era guiado pelo Anjo ou se o Anjo era guiado pelo homem.

Conto de Isabel Furini, escritora e poeta premiada.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Anjos

Formas imaginárias dançam com o vento.

No silêncio do quarto 
faço uma oração para dissolver as mágoas 
- depois durmo. 

Meus sonhos invadem obscuros arquétipos, 
inventam metáforas, 
sinais simbólicos, 
signos alegóricos, 
e desperto com anjos nos olhos.